Pode parecer incrível para a maioria de vocês, mas há muitos e muitos anos (uns 15, para ser mais exato), a gente tinha que se virar sem internet.
Não tinha email, e assuntos urgentes tinham que ser resolvidos por telefone, olha que coisa mais idade-da-pedra, tipo Flintstones. Era horrível ter que disfarçar voz de sono e bocejos de desinteresse cada vez que você falava com um chato. Também ficava mais difícil fingir que estávamos trabalhando, o que por um lado melhorava a produtividade, mas impedia que participássemos de dezenas de grupos de discussão interessantíssimos, com assuntos como criação de peixes tropicais, filosofia nórdica e tratamento de pé-de-atleta. O email mudou nossas vidas.
Sem orkut, ter uma vida social era muito difícil, porque a gente era obrigado a fazer amizade pessoalmente! E tome mau-hálito, som muito alto, bebida falsificada, brigas, filmes chatos, etc. Não era como hoje, essa coisa bacana de escolher uma foto de 10 anos atrás com a melhor luz e o melhor ângulo para por no meu perfil. Não, era dureza. Nada dessa coisa de ficar dois dias só teclando e vendo scraps, sem tomar banho nem fazer a barba. E aí de nós se o desodorante vencesse antes da hora. Não, o orkut e os sites de relacionamento mudaram nossas vidas.
E a falta do Second Life então? Imagina não poder escolher entre 235 tipos de corte de cabelo, 789 formatos de queixo e 943 cores de olho. Como é que a gente vivia sem isso, meu Deus? Voar, só em sonho, e teletransporte só quando rolava alguma reprise de Jornada Nas Estrelas. Para conversar com alguém, você gastava um tempo horrível se arrumando, tinha que sair, ir num barzinho, ouvir bandas chatas, falar com estranhos, um verdadeiro inferno. E pra ficar com um corpinho razoavelmente enxuto, academia 3 vezes por semana. O Second Life mudou nossas vidas.
Mas o pior mesmo era ter que saber as coisas. Vocês, jovens, não tem idéia da tortura que era isso. Ter que saber quem fez o quê e quando, sem poder assessar a Wikipedia ou a Internet Movie Database. Às vezes, você era obrigado a ler um livro, só para ficar sabendo... coisas! Era uma tremenda perda de tempo, mas ainda bem que a internet mudou nossas vidas.
segunda-feira, 20 de agosto de 2007
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2 comentários:
Interessantíssimo o texto.
Acho que podemos relacionar ao que escreveu BAUDRILLARD:
"Dissimular é fingir não ter o que se tem. Simular é fingir ter o que não se tem. O primeiro refere-se a uma presença, o segundo a uma ausência (...) Logo fingir, ou dissimular, deixam intacto o próprio princípio da realidade: a diferença continua a ser clara, está apenas disfarçada, enquanto que a simulação põe em causa a diferença do 'verdadeiro' e do 'falso', 'real' e do 'imaginário'.
Quando fui ao seminário de pós- modernidade, o assunto internet foi muito debatido. Entre tudo que foi falado, acho que o mais interessante foi quando um sociólogo (que logicamente não lembro o nome) disse que a internet é muito mais que o computador e uma mídia. A internet mudou até nosso jeito de comer. Somos outra pessoa mesmo que tenhamos nascido muito antes dela.
Essa reflexão do machado postada aqui mostra muito isso e não posso deixar de parabeniza-lo pelo texto.
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